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Design autoral e identidade cultural definem o posicionamento brasileiro em Milão

  • Foto do escritor: Beluda.Pro
    Beluda.Pro
  • 24 de abr.
  • 4 min de leitura

Com 90 marcas presentes na Milan Design Week 2025, o Brasil apostou em narrativa unificada, curadoria estratégica e valorização de sua diversidade criativa para consolidar uma imagem global baseada em sustentabilidade, autenticidade e inovação cultural.

Espaço Brasil no Salone del Mobile 2025.
Espaço BRASIL apresentou 33 marcas com cenografia que evocava a biodiversidade nacional. / Foto: ABIMÓVEL

A participação do Brasil na Semana de Design de Milão de 2025 marcou um momento de maturidade e articulação estratégica para o setor. Com uma delegação recorde de 90 marcas e designers, o país ocupou posições de destaque tanto no Salone del Mobile quanto no circuito cultural do Fuorisalone. O design brasileiro foi apresentado como expressão de valores contemporâneos, como sustentabilidade, inovação, diversidade regional e identidade cultural, integrando esses atributos a uma narrativa de marca nacional mais estruturada.

A coordenação entre ApexBrasil e ABIMÓVEL, entidades responsáveis pela organização da participação, revela um esforço deliberado de posicionamento internacional que vai além da promoção pontual de produtos. A ideia central foi comunicar que o Brasil possui um ecossistema criativo consistente, capaz de gerar soluções de design competitivas, conectadas com debates globais e, ao mesmo tempo, enraizadas em sua realidade cultural e ambiental.

Presença brasileira nos espaços expositivos

O Salone del Mobile abrigou o chamado “Espaço BRASIL”, com 33 marcas expositoras e uma mostra coletiva que reuniu fabricantes e designers em uma dinâmica colaborativa. A cenografia, assinada pela empresa Estojo, evidenciou uma preocupação estética alinhada a princípios de baixo impacto ambiental, com destaque para o uso de materiais naturais e a presença de uma árvore como elemento simbólico da relação entre biodiversidade e processo criativo. A mostra “Design + Indústria” apresentou resultados de parcerias entre designers e empresas de diferentes regiões do país, dando visibilidade à capacidade de inovação do setor moveleiro brasileiro e reforçando o argumento de que criatividade e escala industrial podem coexistir.

No Fuorisalone, a instalação “Chuva de Caju” foi apresentada na Università degli Studi di Milano, um dos endereços mais disputados da semana. Com curadoria de Bruno Simões, a exposição propôs uma metáfora sensível sobre resiliência, renovação e adaptação, usando o fenômeno climático brasileiro como ponto de partida para refletir sobre os papéis do design diante dos desafios contemporâneos. A mostra apresentou cerca de 50 peças autorais, representando diferentes regiões do Brasil. O discurso curatorial, a materialidade das peças e a originalidade formal compuseram uma narrativa que contribui para projetar o design brasileiro como pensamento de futuro, não apenas como estética exótica.


 "Chuva de Caju", localizada na Università degli Studi di Milano. / Foto: ApexBrasil

Como o Brasil quer ser percebido no exterior

Os temas abordados nas duas frentes da participação brasileira revelam como o país deseja ser percebido no ambiente internacional. A sustentabilidade foi apresentada como um pilar estrutural e não como tendência. O uso de matérias-primas certificadas, técnicas artesanais atualizadas com tecnologia e a valorização da biodiversidade brasileira foram articulados como diferenciais competitivos. A ideia de brasilidade foi explorada com sobriedade, evitando estereótipos visuais e reforçando uma identidade que é ao mesmo tempo local e globalmente pertinente. Elementos como calor humano, ancestralidade, informalidade sofisticada e o vínculo com o território foram traduzidos em formas, texturas e histórias que ajudam a consolidar um repertório simbólico próprio.

Ao mesmo tempo em que reforça valores nacionais, o design brasileiro vem adotando um vocabulário técnico e conceitual que o aproxima de padrões internacionais. Essa dupla movimentação — olhar para dentro e dialogar com o mundo — é estratégica para que o Brasil se posicione como um polo criativo e produtivo capaz de disputar espaço com países já consolidados na cena do design.

Casos exemplares e construção simbólica das marcas por meio do design

Algumas empresas conseguiram traduzir com precisão os princípios dessa estratégia. A ArboREAL destacou-se com móveis elaborados a partir de madeiras nativas, com foco em manejo responsável. A by Kamy levou tapetes de inspiração artesanal com forte apelo visual e sensorial. A St. James, tradicional marca de prataria, apresentou peças que aliam refinamento técnico e expressividade formal. No campo do design autoral, nomes como Rahyja Afrange, Samuca Gerber e Eduardo Trevisan se destacaram com criações que dialogam com temas contemporâneos, sem perder sua raiz cultural.

Esses exemplos evidenciam como o posicionamento de marca deixa de ser apenas uma questão de marketing e passa a fazer parte da essência do negócio. Empresas que entendem a importância da construção simbólica de seus produtos têm maiores chances de se diferenciar, de criar vínculos com públicos diversos e de sustentar sua relevância ao longo do tempo. O design passa a ser um veículo de significado, integrado à forma e função.

Marketing como parte da estratégia industrial e cultural

O marketing desempenha papel fundamental nesse processo. A forma como as marcas comunicam suas escolhas, sua visão de mundo e seu compromisso com a inovação ou a sustentabilidade é decisiva para gerar valor simbólico no mercado internacional. 

A coerência entre o que é dito e o que é feito, entre a peça apresentada e a história que a sustenta, é o que torna uma marca confiável, desejada e respeitada. A participação brasileira em Milão 2025 mostra que a comunicação pode ser integrada à estratégia de negócios e à política industrial, ampliando o impacto de iniciativas setoriais e fortalecendo a imagem do país como um todo.

Perspectivas de futuro e uma visão mais integrada da internacionalização

A continuidade da estratégia brasileira, agora ampliada para incluir empresas de componentes e fornecedores da cadeia produtiva, indica que o país pretende consolidar sua presença no exterior de forma mais integrada. O foco não está somente na exportação de produtos. A capacidade de oferecer soluções completas, com valor agregado, identidade própria e conexão com as demandas globais também é valorizada. Essa visão de futuro, apoiada em Branding, inovação e cooperação entre diferentes atores, é um caminho promissor para quem deseja posicionar marcas brasileiras com consistência e competitividade no cenário internacional.


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